É impossível falar de Arquitetura Corporativa sem discutir os diferentes frameworks associados. Os dois frameworks mais famosos são o Zachman e o TOGAF.
Mas o que é um framework de arquitetura?
Segundo a definição do próprio TOGAF, um framework é “uma estrutura para conteúdo e processo que pode ser usada como uma ferramenta para estruturar o pensamento e garantir consistência e completude.” Ou seja, um framework serve para “botar ordem na casa” (conteúdo) e “ensinar o caminho das pedras” (processo).
Por que os frameworks de arquitetura são necessários? Pela a simples razão de que a quantidade e complexidade da informação mantida em uma iniciativa de arquitetura são muito grandes, e que o processo para obter essa informação e construir e manter uma arquitetura são tudo menos simples. Os frameworks, portanto, fornecem essa estruturação para simplificar a vida dos arquitetos.
Vejamos os dois principais frameworks de arquitetura em maior detalhe. Neste artigo, detalharemos o Zachman Framework e, no próximo, o TOGAF.
Zachman Framework
John Zachman é considerado o “pai” da Arquitetura Corporativa. Foi ele quem delineou a disciplina, inventou o termo “Enterprise Architecture” e criou o primeiro framework, que leva seu nome.
Nos dois artigos em que introduz o tema (veja os links no final da página), Zachman explica o uso do conceito de “arquitetura” para o assunto que está introduzindo. A metáfora é mais que apropriada. Essencialmente, ele nos diz que, para construir uma casa, precisamos de diversas plantas de arquitetura, abordando diversos aspectos (estrutura, elétrica, hidráulica…) e destinadas a diversos públicos (o cliente que encomendou a casa, os diversos engenheiros envolvidos, o mestre-de-obras…). Além disso, precisamos manter essas plantas atualizadas para sermos capazes de fazer modificações e reformas no futuro sem risco (quem nunca furou um cano na parede?) Zachman nos diz que não é diferente com as organizações.
Em sua forma atual, o framework de Zachman consiste em uma matriz de 6 colunas por 6 linhas. As colunas correspondem às clássicas perguntas 5W1H (What/Who/Where/When/Why/How) aplicadas à organização. As colunas, portanto, referem-se aos diferentes aspectos sobre a organização que precisam ser conhecidos:
- What: sobre o que a organização precisa de informação? De que ela trata? Normalmente, essa coluna representa dados mantidos pela organização.
- How: Como a organização funciona? Como ela processa seus dados? Esta coluna normalmente refere-se a processos e funções da organização.
- Where: Onde as coisas acontecem? Aqui vão informações geográficas, de localização etc.
- Who: Quem está na organização e quem faz o quê? Informações sobre pessoas e estruturas organizacionais estão aqui.
- When: Quando as coisas acontecem? Questões relativas ao tempo aparecem aqui.
- Why: Por quê as coisas acontecem? Aqui vão as informações relativas às motivações da organização, incluindo seus planos estratégicos de negócio.
As linhas da matriz referem-se aos diferentes pontos de vista e níveis de detalhe relativos à informação que descreve a organização:
- A primeira linha contém o escopo e o contexto, e representa o ponto de vista do estrategista como teorizador sobre a organização. Normalmente, contém informação relevante para o planejamento estratégico de alto nível e, é claro, o próprio conteúdo da Estratégia da organização.
- A segunda linha contém os conceitos de negócio, representando a visão da liderança executiva (vistos como proprietários dos processos de negócio e informações relacionadas). Contém tipicamente descrição detalhada da organização no nível de processos de negócio.
- A terceira linha contém informações sobre os sistemas de informação (nível lógico), com a visão dos arquitetos de sistemas (designers).
- A quarta linha contém informações sobre a infraestrutura tecnológica (nível físico) da organização, sendo o ponto de vista dos engenheiros enquanto construtores.
- A quinta linha refere-se à descrição dos componentes que a organização utiliza para operar, sendo a visão dos técnicos-implementadores.
- A sexta e última linha representa as operações propriamente ditas da organização, instanciadas pelos seus colaboradores participantes.
As células criadas pela interseção das linhas e colunas “armazenam” algum tipo de informação especifica que combina o aspecto e o ponto de vista correspondentes.
Tão ou mais importantes, talvez, que os conteúdos de cada célula, são as ligações existentes entre as várias linhas do modelo. Por exemplo, um repositório de arquitetura baseado no modelo de Zachman conterá informação, na linha 2, mostrando quais processos de negócio implementam ou estão relacionados com as metas estratégicas descritas na linha 1. A linha 3 mostrará quais sistemas de informação dão suporte a quais processos de negócio e a linha 4 mostrará quais itens de infraestrutura dão suporte a quais sistemas de informação, e assim por diante. É isso que permite a realização de análises de impacto, percorrendo o diagrama de cima para baixo – se mudarmos esta meta estratégica (linha 1), quais processos de negócio (linha 2), sistemas de informação (linha 3) etc. serão afetados? Fazendo o caminho inverso – de baixo para cima, temos a melhor ferramenta possível para analisar riscos organizacionais: caso este servidor ou link de comunicação pararem, quais sistemas irão parar, quais processos de negócio serão afetados e quais serão as metas estratégicas prejudicadas?
É importante observar que o framework de Zachman atente apenas parcialmente à definição do TOGAF, já que ele provê a estruturação da informação (conteúdo), mas não inclui per se um método (processo) para sua construção. Na verdade, trata-se apenas de um metamodelo. Essa é a principal razão pela qual arquitetos corporativos recorrem a outros frameworks para suprir essa necessidade. E o principal desses frameworks é justamente o TOGAF.
Outra ressalva ao modelo de Zachman é que ele tem um forte “sotaque” de TI: a partir da sua terceira linha, por exemplo, é bastante claro o foco em sistemas de informação, podendo dar a entender que esses são os únicos recursos organizacionais utilizados pelas organizações para dar suporte a seus processos de negócio. Essa é uma das críticas mais frequentes ao Zachman Framework, sendo que seus críticos mais ácidos o acusam de nem mesmo poder ser chamado de framework de arquitetura corporativa, mas apenas de arquitetura de TI.
TOGAF
A sigla TOGAF significa The Open Group Architecture Framework e dispensa maiores explicações, a não ser para explicar que se trata de um framework desenvolvido e mantido pelo The Open Group, entidade sem fins lucrativos mantida por seus membros, que são em sua maioria empresas de serviços de TI, tais como IBM, SAP e HP (a Gnosis é membro do Open Group).
Como dito acima, a popularidade do TOGAF se dá, entre outros motivos, pelo fato de ser um framework aberto (como tudo o que faz o Open Group – faz parte do nome, afinal) e prover um método para a construção e manutenção de uma arquitetura corporativa, algo que não é disponibilizado pelo Zachman framework.
No próximo artigo, detalharemos o TOGAF e veremos como ele se relaciona com o modelo de Zachman.
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Outros artigos da série:
Parte II: 5 Razões para se tornar um Arquiteto Corporativo
Parte IV: Frameworks de Arquitetura: Zachman
Parte V: Frameworks de Arquitetura: TOGAF
Outros artigos de Arquitetura Corporativa
[…] Frameworks de Arquitetura – Parte 1: Zachman […]