Vamos lá: por que você deveria se esforçar para se tornar um arquiteto?

Existem muitas razões, mas selecionei cinco delas para focar aqui.

  • Uma nova profissão (aspecto de novidade).

Pelo menos no Brasil, trata-se de uma nova profissão. Pouquíssimos profissionais tem “Arquiteto” impresso em seus cartões de visita. Isto, claro, tem dois aspectos interessantes. Um deles é o fato de que você se apresenta profissionalmente de forma diferenciada (o que vamos discutir no próximo item). O outro é mais intrínseco: você está na fronteira do conhecimento, tendo a oportunidade de participar da aventura da inovação.

Se você é daquelas pessoas que gosta de estar na frente, mesmo sabendo que não existem respostas prontas para as perguntas, a profissão de arquiteto pode ser uma opção das mais interessantes para você.

  • Saia do mar vermelho (PMP já era).

Como dissemos acima, o fato de esta ser uma profissão nova faz com que você se destaque da multidão (pelo menos nos próximos anos). Sejamos sinceros: PMP já era. Até o pipoqueiro da esquina é PMP. O PMI cometeu o erro de transformar a certificação em Gerenciamento de Projetos em uma vaca leiteira / caça-níqueis (e que níqueis!). Transformou sua certificação em uma indústria na qual a credibilidade caminha de forma assustadoramente rápida para o total descrédito. É impossível, hoje, distinguir um gerente de projetos competente e experiente de alguém que decorou “o livro da Rita” para passar na prova, já que o mais provável é ambos sejam PMP!

Mesmo que o diploma PMP ainda valha alguma coisa, é algo que uns 90% dos profissionais seniores (ou nem isso)  já têm ou terão nos próximos 18 meses. Não é diferencial nenhum, tornou-se “fator higiênico”, ou seja, algo que se espera “de saída”, como curso superior ou domínio da língua inglesa.

Fez muito sucesso um livro relativamente recente sobre Estratégia chamado “A Estratégia do Oceano Azul”. Essencialmente, o livro recomenda às empresas que parem de tentar disputar mercados abarrotados de concorrentes se esfaqueando (o “mar vermelho” de sangue) e procurem novos mercados onde não haja ninguém. No plano individual, podemos dizer que a profissão de arquiteto terá essas características por algum tempo: vai levar tempo para que o mercado esteja abarrotado de arquitetos!

Se você ainda não é PMP, corra para ser! Até porque experiência em Gerenciamento de Projetos é prerrequisito para ser um bom Arquiteto. Mas não caia na conversa de que isso vai lhe dar algum diferencial significativo em médio prazo!

  • Use todo o seu repertório (holismo, cultura pessoal etc.).

A profissão de arquiteto é por definição uma atividade holística. O arquiteto tem que ser um “poliglota”, falando “negociês” com o pessoal de negócio e “tecniquês” com o pessoal de tecnologia, sem esquecer o pessoal de RH, da Auditoria, do Jurídico…

É uma profissão perfeita para quem tem conhecimentos amplos. Sabemos que muitos profissionais de TI, embora usem conhecimentos tecnológicos no dia a dia, em algum momento se dedicaram – mesmo que por hobby – a outras atividades de conhecimento, tipicamente em ciências humanas, incluindo aí sociologia, história, ciência política, filosofia etc.

A boa notícia é que você precisará disso tudo para se destacar como arquiteto.

A má notícia é que você precisará disso tudo para se destacar como arquiteto.

O Arquiteto precisa ter uma visão holística, macro, geral, de alto nível sobre a organização e seu ambiente. Não é possível definir de antemão quais conhecimentos serão necessários, de modo que o repertório de cada arquiteto fará a diferença.

Portanto, se você é aquela figura tão comum na área, que estudou não sei que disciplina só pelo gosto de fazê-lo, essa é a sua chance de fazer esses seus conhecimentos trabalharem a favor de sua carreira e dos resultados de sua organização.

  • Entenda o negócio, sem deixar de entender de tecnologia (seja um generalista).

O arquiteto certamente não é um especialista. Nem em negócio e nem em tecnologia. O arquiteto concentra-se na floresta, e não nas árvores individuais. Por incrível que pareça, acredito que ser um generalista útil é bem mais difícil do que ser um especialista útil. Afinal, o especialista é capaz de mostrar imediatamente suas competências. O generalista, por outro lado, precisa de tempo. Portanto, prepare-se: não é fácil!

Espera-se do Arquiteto que ele tenha uma excelente compreensão do negócio que sua empresa opera, mesmo sem conhecer os ínfimos detalhes. Ao mesmo tempo, espera-se dele que tenha uma sólida (e atualizada!) compreensão da tecnologia. E, principalmente, espera-se dele que seja capaz de fazer a ponte, isto é, compreender como é que a tecnologia pode servir ao negócio de forma inovadora.

Há uma boa discussão sobre se ser generalista ou especialista é questão apenas de escolha ou de personalidade (ou ainda de outras características pessoais). Não vou entrar nessa discussão aqui. Mas, se você se sente atraído por muitos assuntos bem distintos, ao invés de um pequeno número de assuntos em um domínio restrito, é provável que você tenda a ser um generalista. Se for assim, a profissão de Arquiteto provavelmente é uma boa opção para você.

  • Abrace a estratégia (suba na vida, trate com quem decide).

Uma das grandes frustrações dos profissionais de TI é nunca serem capazes de discutir com “quem decide”.

O Arquiteto, por outro lado, tende a ser um interlocutor privilegiado de quem decide, desde que a prática de Arquitetura em sua organização seja levada a sério.

Arquitetura Corporativa tem tudo a ver com a Estratégia. É claro que há muitas empresas que alegam praticar Arquitetura Corporativa, mas que mal e mal praticam Arquitetura de TI, a milhares de quilômetros das questões estratégicas da organização. Mesmo que este seja o seu caso, é difícil imaginar qualquer profissional de TI mais próximo das questões que realmente contam na empresa do que o Arquiteto. Se há alguém de TI capaz de “subir a escada” e chegar a discutir Estratégia, esse alguém é o Arquiteto (observe-se que estou me referindo e me dirigindo aos profissionais de TI: nada impede que o arquiteto venha de uma experiência profissional completamente diferente).

Enfim, poderíamos listar muitas outras boas razões pelas quais um profissional deva considerar seriamente a possibilidade de tornar-se um Arquiteto Corporativo. Mas acredito que tenhamos listado aqui algumas das mais importantes delas. Espero ter convencido alguém!

No próximo “fascículo”, trataremos da questão de “por onde começar”, ou seja, o que é necessário para alguém tornar-se um Arquiteto Corporativo.

Clique aqui para ler o próximo artigo da série

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Outros artigos da série:

Parte I: Introdução

Parte II: 5 Razões para se tornar um Arquiteto Corporativo

Parte III: Por onde começar?

Parte IV: Frameworks de Arquitetura: Zachman

Parte V: Frameworks de Arquitetura: TOGAF

Outros artigos de Arquitetura Corporativa

Arquitetura Corporativa e Gestão de Portfolio de Projetos

Os 3 mal-estares do Planejamento Estratégico

25 thoughts on “Cinco razões para se tornar um Arquiteto Corporativo

  1. Depois de um bom tempo atuando em TI (no meu início era “processamento eletrônico de dados”) ainda me supreendo com novos termos, ou apelidos, para as mesmas diciplinas. Faz parte… pelo menos no campo da TI, área do conhecimento “recem nascida” se tomarmos como base a medicina, engenharia etc. Aos que começam na área, não enlouqueçam; adquirir conhecimento nos fundamentos é o que vale, o resto é moda.

  2. Olha eu aqui! Achei!
    Mas … essa parte já não estava no primeiro artigo?
    Enfim, as razões são boas e eu já me convenci: vou tirar o meu Togaf 9!

  3. Átila, parabns pelo excelente artigo. Twittei-o, como diria o Jânio Quadros. Veja em sergiostorch..
    Aproveito a carona para divulgar a seus leitores o meu workshop sobre wikis corporativos, que podem ajudar muito o arquiteto a envolver os stakeholders num proceso colaborativo, e tornar mais suave o alinhamento estratégico. Vejam em http://tinyurl.com/ylxqe6d.

    Um abraço, Átila

  4. Olá Atila,

    Lendo o texto durgiu uma dúvida que não deve ser só minha. Qual a interface entre o arquiteto corporativo e o analista de negócio?
    Um abraço,

    1. Leandro, vamos detalhar esse assunto em uma parte futura da série, mas para já podemos dizer que o Analista de Negócio está tipicamente vinculado a uma área ou grupo específico de processos dentro da empresa, enquanto a Arquiteto tem uma visão mais global. Fazendo uma comparação: o Analista de Sistemas faz a Modelagem de Dados de seu sistema, mas quem valida e integra esse modelo com o Modelo de Dados Corporativo é o Administrador de Dados. É um relacionamento semelhante: o Analista de Negócios conhece profundamente a área de negócios que atende, mas não precisa ter uma visão dos processos de negócio da empresa como um todo, o que é responsabilidade do Arquiteto.

      1. Olá Atila,
        Agradeço a explicação, e irei aguardar a série mencionada.
        Mas entendo que a forma como qualificou a atuação do analista de negócio está longe de ser uma regra. Na verdade, está muito mais ligada a cada estrutura organizacional ou nível de maturidade de uma empresa com a área de modelagem de negócio. Já atuei em organizações que centralizavam a equipe de analista de negócios, logo a hierarquia entre perfis (do mais específico ao mais abrangente) era natural. Ou seja, um perfil senior teria as responsabilidades que atribui ao arquiteto.
        Mas acredito que os cânones corporativos devam ser flexíveis o suficiente para aceitar esta dinâmica natural na rotulação de novas funções, e quando conseguimos manter os respectivos links entre áreas e competências é ainda melhor.

        Um abraço.

  5. Átila, Ótima abordagem. Tenho tido a oportunidade de discutir esse perfil na empresa, e ainda temos opiniões diferentes quanto aos requisitos desse perfil. Gostaria de acrescentar, se me permite, que dentre os conhecimentos técnicos do arquiteto, é imprescindível o domínio da metodologia RUP, baseada em UML. Achei o artigo muito esclarecedor e vai ajudar bastante às empresas que estão buscando essa nova visão para TI/Negócio.

  6. “O arquiteto certamente não é um especialista. Nem em negócio e nem em tecnologia. O arquiteto concentra-se na floresta, e não nas árvores individuais”

    Átila essa frase é tudo que eu precisava para encontrar meu caminho profissional.

  7. Ótimo artigo, recomendo um post sobre a dificuldade de se estabelecer um framework de arquitetura nas organizações, devido a cultura e territorialismo dos especialistas desde infra até negócios… Na minha visão este conflitos devem ser resolvidos sempre top-down !
    Vejo muitas organizações se afundando em complexidade e perdendo o controle do roadmap de inovação e evolução.

  8. Atila,
    Primeiramente queria dizer que, seu artigo é muito interessante, suas explicações são bastantes coerentes e de fácil entendimento, só que, tenho uma dúvida e se possivel gostaria que me ajuda-se.
    Sou de Rondônia, e pretendo fazer arquitetura, mais li muitos casos, alegando que Arquitetura é uma profissão que não é muito valorizada ultimamente, e que algumas pessoas acabam desistindo de fazer. Será que eu devo arriscar mesmo assim?

    Obrigada!

    1. Olá Suellen, a questão é que o assunto ainda é muito novo, e, de fato, a demanda por profissionais de arquitetura ainda é pequena. Não se trata de que não é valorizada, é que é uma profissão quase desconhecida pelos empregadores! Acredito e espero que isso mude o quanto antes!

  9. Atila, muito interessante seu post, recentemente li este outro post que fala sobre PMP : 
    http://www.gebh.net/oprimo/2011/10/a-falacia-do-gerenciamento-de-projetos-segundo-o-pmi. Concordo com ambos.
    Achei muito interessante a motivação sobre Arqutetura Corporativa, que também já vi mencionarem como Arquitetura de Negócios, Arquitetura Empresarial, Arquitetura da Informação Organizacional e assim por diante.
    O grande impedimento que eu percebo nisso é que a disciplina ainda é muito imatura, afirmo isso pela sua complexidade e por verificar que somente em grandes empresas é aplicada.
    Tem alguma visão sobre como tornar esta disciplina em algo viável para pequenas empresas?

    1. Olá Daniela, muito interessante o artigo que vc indicou, obrigado! Bem se vê que não sou o único a pensar assim…

      Arquitetura de Negócios é parte da Arquitetura Corporativa, enquanto Arquitetura Empresarial é uma tradução alternativa.

      De fato a disciplina é ainda imatura, mas não necessariamente tem a ver com o tamanho da empresa. Tenho um cliente pequeno (300 funcionários, 5 na TI) em que implantamos o TOGAF bem bonitinho. O TOGAF é totalmente customizável, inclusive no sentido da simplificação radical para uso em pequenas empresas. Basta haver patrocínio e “vontade política”.

  10. Caramba, o comentário da Daniela repicou no meu email, e aí vim e reli, e vi  que já tinha passado por aqui 2 anos atrás…
    Átila, ao reler este teu post, me veio um insight e venho aqui te provocar. Você coloca a carreira de Arquiteto como uma alternativa oceano azul para o PMP. Eu contraponho o seguinte: quem tem vocação para gerenciar projeto pode não ter vocação para a atividade mais analítica de um Arquiteto. Vejo a carreira de Arquiteto como uma opção de upgrade profissional para outros caras: o Analista de Processos, o Analista de Negócios, e até mesmo o Analista de Sistemas. E para os caras de Planejamento Estratégico e Gestão de Mudança.Já para o PMP existem outros caminhos mais apropriados: basta sair da vala comum do GP que só controla cronogramas, e se diferenciar com o conhecimento de gestão de projetos mais ágil, com gestão de riscos e com inovação. Mas se ele é bom de execução, é pequena a probabilidade de que seja tão bom assim em planejamento, que é onde o Arquiteto se insere. O que vc acha?Um abraço, depois de tanto tempo…

    1. Grande Sérgio!

      Sua provocação tem lógica, mas é importante a gente lembrar algumas coisas.

      Em primeiro lugar, o TOGAF e outros modelos de EA assumem que o Arquiteto Chefe é um profissional com muita experiência em Gerenciamento de Projetos, pelo simples motivo de que projetos de Arquitetura Corporativa estão entre os projetos mais difíceis de gerenciar, especialmente pela grande quantidade de stakeholders envolvidos.

      É provável que o Arquiteto Chefe tenha em sua equipe profissionais mais “analíticos”, com certeza. Usando a metáfora das Forças Armadas, o Arquiteto Chefe é o “Comandante-em-Chefe”, mas ele não chegará em lugar nenhum sem um “Estado-Maior” que lhe assessore.

      Grande Abraço!

    2. Grande Sérgio!

      Sua provocação tem lógica, mas é importante a gente lembrar algumas coisas.

      Em primeiro lugar, o TOGAF e outros modelos de EA assumem que o Arquiteto Chefe é um profissional com muita experiência em Gerenciamento de Projetos, pelo simples motivo de que projetos de Arquitetura Corporativa estão entre os projetos mais difíceis de gerenciar, especialmente pela grande quantidade de stakeholders envolvidos.

      É provável que o Arquiteto Chefe tenha em sua equipe profissionais mais “analíticos”, com certeza. Usando a metáfora das Forças Armadas, o Arquiteto Chefe é o “Comandante-em-Chefe”, mas ele não chegará em lugar nenhum sem um “Estado-Maior” que lhe assessore.

      Grande Abraço!

  11. Átila, concordo, mas talvez sejam projetos em que a bitolinha do PMBOK mais atrapalhe do que ajude. As competências requeridas nesse caso são muito mais as de metodologias ágeis como Scrum etc do que as clássicas, que enfatizam mais a compliance com modelos pesados do que a inovação. Para gerenciar projetos desse tipo eu tenho pra mim que as habilidades essenciais são de elicitação de sonhos, aspirações e visões, para as quais o formalismo das metodologias tradicionais de GP não são muito apropriadas. Tô certo?

    1. Bom, isso eu sempre disse, e continuo dizendo a meus alunos na pós de Gestão de Projetos.

      Acredito que o PMBOK seja excelente em projetos de Engenharia Civil ou Aeroespacial, mas minha experiência é de quase 30 anos em projetos de TI, nos quais se der para aproveitar uns 30-40% do PMBOK é muito.

      O próprio PMBOK diz que é responsabilidade da Equipe de Gerenciamento de Projetos adaptá-lo às situações concretas, mas, infelizmente, a comunidade de PMBOK é meio xiita e acredita que se vc não está usando 100% do Guia vc não está gerenciando projeto!

      Exemplo concreto: nunca, jamais, em tempo algum, eu vi sentido em fazer gerenciamento quantitativo de risco em projetos de TI, pelo simples fato de que não existem bases de dados históricas confiáveis e que todos os aspectos de TI envolvem inúmeras variáveis não-quantificáveis (como conhecimento, experiência e motivação da equipe).

      Portanto, concordo 100% com vc nesse aspecto. Projetos de Arquitetura, ainda mais do que os de TI, envolvem uma enorme carga de aspectos culturais, políticos e psicológicos que impossibilitam uma abordagem “quadradinha”.

  12. Este artigo é de 5 (cinco) anos atrás o que demonstra como as coisas na TI se parecem com a moda. Sempre retornam como sendo coisa nova, mas que na verdade é mais do mesmo.
    O que ocorre hoje nas empresas é que essa galera nova não quer mais dá o sangue. São poucos que vão a fundo no negócio. Vivem de soluções superficiais e focados principalmente na rotatividade (atrás de coisa melhor pra mim e não para mim/empresa). O velho lema “Não vou a fundo pois o ‘problema/solução’ torna-se meu”.

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