Artigo Gartner - Info Corporate
Artigo Gartner – Info Corporate

Alguns cínicos costumam dizer que, quando um assunto chega às grandes publicações, é porque já está no passado.

Embora isto seja evidentemente exagerado, é auspicioso ver que o tema da Arquitetura Corporativa (ou Empresarial, como querem alguns) começa a aparecer na “grande mídia”, pelo menos na especializada, neste caso representada pela revista Info Corporate.

Em seus boletins periódicos, a revista sempre destaca um artigo (normalmente traduzido) do Gartner, cujas opiniões, sabemos bem, são muito respeitadas por estas plagas. É uma boa notícia que o nosso assunto tenha sido objeto de tal honraria duas vezes em menos de dois meses!

O primeiro – A arquitetura corporativa traz valor ao negócio? – saiu no início de Junho. Infelizmente, foi muito mal traduzido (automaticamente?), de modo que quem preferir pode ler o original aqui.

O segundo – A Arquitetura Corporativa em tempos de desafios econômicos – saiu hoje e, felizmente, está traduzido decentemente.

Os dois tem em comum uma questão muito atual: vale a pena investir em Arquitetura Corporativa em tempos de crise econômica? Não seria a Arquitetura mais um desses “luxos” que entram na primeira lista de cortes de custos?

Continue reading

Cada vez mais, as organizações apreciam as vantagens de implantar um Escritório de Projetos (PMO – Project Management Office) e de incluir nas atribuições deste órgão a tarefa de gerenciar o portfolio de projetos da organização.

A Gestão de Portfolio de Projetos é a disciplina (processos, técnicas e ferramentas) através da qual a organização é capaz de obter e documentar informações sobre os projetos em curso e programados ou demandados, e avaliar e comparar esses projetos entre si, em termos de um conjunto de aspectos, tais como alinhamento com o negócio, risco, retorno e uso de recursos. Com base nessa avaliação, o PMO pode classificar os projetos propostos, priorizando-os e alocando recursos proporcionais a sua importância a cada um, indicada pela classificação. Além disso, a Gestão de Portfolio de Projetos inclui práticas e ferramentas para monitorar e controlar os projetos coletivamente.

Benefícios da Gestão de Portfolio de Projetos

Existem inúmeras vantagens em tratar os projetos da organização como uma carteira ou portfólio. Alguns dos principais são os seguintes:

  • Eliminação de projetos duplicados. Projetos idênticos, ou muito similares, sendo conduzidos em duas ou mais áreas na empresa podem ser fundidos em um só, reduzindo custos e evitando incompatibilidades no futuro.
  • Combinação de projetos gerando economias de escala. Projetos que, embora não sejam idênticos, fazem sentido de serem executados juntos, pela mesma equipe e próximos no tempo. Um exemplo seriam projetos que produzem muitas entradas um para o outro.
  • Visão clara da interdependência entre projetos. É mais fácil perceber quais saídas do projeto A devem ser entradas para o projeto B e vice-versa.
  • Orienta a coordenação no tempo de diferentes projetos: o que deve acontecer no projeto A antes que se possa executar a tarefa X no projeto B.
  • Redução da prioridade de projetos necessários, mas menos importantes ou urgentes. Ao comparar o escopo do projeto com as necessidades estratégicas da organização, é possível detectar quais projetos podem ser deixados para depois, quando houver mais recursos disponíveis.
  • Aumento da prioridade de projetos estratégicos, mas de baixa visibilidade. Da mesma forma, o exame da relevância do projeto para o cumprimento das metas estratégicas pode levar à priorização e alocação de recursos adicionais a um projeto cuja visibilidade esteja baixa, talvez por falta de patrocinadores poderosos.
  • Otimização da alocação de recursos e talentos. A Gestão de Portfolio de Projetos provê orientação na formação de equipes, usando as habilidades das pessoas onde contam mais. Se existe alguém na organização que é um expert em uma das fases-padrão dos projetos normalmente executados, por que esta pessoa deveria estar “fixa” em uma equipe que pega um projeto após o outro, participando também das atividades nas quais não é tão bom assim? Se João é um ótimo especificador de requisitos, mas um desenvolvedor apenas mediano, que sentido tem ele fazer tudo na equipe? Não é melhor que ele especifique os requisitos no projeto A, depois vá fazer o mesmo no projeto B e assim por diante? Com a visão global que a Gestão de Portfolio dá, é possível planejar melhor o emprego dos especialistas nos diversos projetos.
  • Visão clara do que deve ser feito pela “prata-da-casa” e o que pode ou deve ser terceirizado. Projetos críticos que exijam a participação intensa de pessoal interno são mais facilmente identificados, de modo que podemos deixar os outros projetos como candidatos à terceirização.
  • Identificação de necessidades de contratação e treinamento. Como a Gestão de Portfolio provê uma visão de médio a longo prazo para os projetos da organização, é possível identificar com bastante antecedência quais serão as competências necessárias no momento em que os projetos começarem. Nada de treinar pessoas depois que o projeto já começou! Da mesma forma, é possível antecipar se será necessário trazer gente nova para o time.

Limitações da Gestão de Portfolios de Projetos

Embora tudo isso seja verdade, a Gestão de Portfolio de Projetos (GPP) tem também suas limitações. A mais importante delas é que a GPP trata da priorização de projetos depois que foram sugeridos ou requisitados, ou mesmo quando já estão em andamento. Isto significa que nada garante que não sejam outros os projetos realmente necessários. A GPP tipicamente não produz sugestões de projetos, ela apenas analisa aqueles que lhe são propostos. E, como diz aquele velho ditado, “garbage in, garbage out”, ou seja, se entrar lixo, do outro lado do processo não há como sair algo diferente… E se a organização não tiver um processo para produzir a lista de projetos de que ela realmente precisa? Afinal, pode ser que os projetos necessários nem tenham sido sugeridos ou vislumbrados por ninguém…

Outra importante limitação da Gestão de Portfolio de Projetos é que a comparação se dá entre os projetos que estão no portfólio, mas aquilo que já existe na organização é desconsiderado. Suponha que o PMO detecte dois projetos com escopos quase idênticos, sendo conduzidos em diferentes departamentos. A Gestão de Portfolio de Projetos pode ajudar a evitar essa duplicidade, fundindo os projetos. Suponha agora que o escopo do projeto envolve produzir algo que já foi produzido antes por um terceiro projeto em um terceiro departamento, sendo que o projeto terminou e entregou o produto há, digamos, dois anos. A GPP não vai pegar isso. Embora se tenha evitado a redundância de dois projetos simultâneos fazendo a mesma coisa, não há como evitar que um projeto produza algo que já existe na organização.

Arquitetura Corporativa e Gestão do Portfolio de Projetos

É aqui que entra a Arquitetura Corporativa[1]. É ela quem dá condições de complementar as práticas de GPP, superando as limitações citadas.

Como sabe o leitor, A Arquitetura Empresarial mapeia a organização inteira: começa com a Estratégia, prossegue com o mapeamento dos processos de negócio e em como esses processos executam (ou deixam de executar) a Estratégia; passa então para os Sistemas de Informação que automatizam (ou não) esses processos de negócio (bem ou mal) e termina identificando a infraestrutura tecnológica disponível para a execução desses sistemas. Além disso, o processo de Arquitetura Corporativa mapeia não só o que existe hoje (Arquitetura AS-IS), mas também o que é necessário no futuro para que a Estratégia da organização possa ser implementada (Arquitetura TO-BE). Por fim, o processo também leva os arquitetos a fazerem a análise entre o que existe hoje e o que deveria existir (gap analysis), e é justamente desta análise que deve sair o portfólio dos projetos necessários para que a organização consiga implementar sua estratégia. Em outras palavras, são esses os projetos de que a empresa precisa. Inversamente, qualquer projeto proposto que não puder explicar como é que ele ajuda a organização a ir de onde ela está para onde ela quer chegar não merece ser incluído no portfolio. Ou seja, a Arquitetura Corporativa permite identificar os projetos realmente necessários, coisa que a Gestão de Portfolio de Projetos sozinha não é capaz de fazer.

Além disso, a Arquitetura Empresarial provê ao PMO as informações necessárias para responder a duas perguntas essenciais para a avaliação de projetos:

  1. O que este projeto pretende produzir já existe em algum outro lugar na organização? Ou seja, a Arquitetura Corporativa resolve o segundo problema mencionado antes, a questão de saber se um projeto não é redundante com outro projeto que já tenha terminado e já esteja “fora” do portfólio.
  2. O que este projeto pretende produzir aparece em alguma arquitetura futura (TO-BE) da organização? Se sim, o projeto deveria estar no portfólio de projetos da Arquitetura, ou então ser combinado com algum projeto que já esteja lá. Se não, das duas, uma: ou o projeto não é necessário e não deve ser executado; ou ele é, sim, necessário, e é a Arquitetura que está incompleta e deve ser atualizada.

Essas são apenas duas das formas pelas quais a Arquitetura Empresarial ajuda e completa a Gestão de Portfolios, mas existem várias outras. Uma que não é possível deixar de mencionar é a capacidade que a Arquitetura Corporativa dá ao PMO de avaliar corretamente o impacto e o risco de um projeto, ao disponibilizar informação sobre como os vários elementos da organização estão interligados. Sem Arquitetura, esse tipo de análise acaba sendo pouco mais que “chute”, e a sua aproximação em reação à realidade vai depender muito de quem estava disponível no momento para fazer a análise. Discutiremos esse aspecto da Arquitetura Corporativa em um próximo artigo.

[1] Não existe ainda uma tradução universalmente aceita para a expressão em inglês “Enterprise Architecture”. De modo geral, a expressão vem sendo traduzida tanto como Arquitetura Corporativa quanto Arquitetura Empresarial. Usaremos as duas expressões indistintamente.

Ninguém sabe o que é Arquitetura Corporativa?

Link para artigo externo
Link para artigo externo

Recomendo a leitura deste artigo para aqueles que querem ter uma idéia geral sobre Arquitetura Corporativa e a abordagem do TOGAF para a mesma.

Mas o que mais me chamou a atenção no artigo é a constatação de que o assunto é pouco conhecido -tanto na Academia quanto nas Empresas- mesmo no “primeiro mundo”. De fato, ainda há muito a fazer em termos da divulgação desses conceitos…

(Usando o link que forneci, você irá para uma versão da página que inclui comentários meus em “post-it” armazenados no Diigo.)

Palestra Internacional: SOA com TOGAF – Por que não implementar SOA sem Arquitetura Corporativa

No próximo dia 17 de Junho, quarta-feira, às 19:00h, teremos no Auditório da Sucesu-SP uma palestra internacional com o título “SOA com TOGAF – Por que não implementar SOA sem Arquitetura Corporativa”. O palestrante será Serge Thorn, consultor da Architecting the Enterprise, que estará no Brasil para dar um curso de certificação em TOGAF.

Esta palestra marca o início da parceria da Gnosis com a Architecting the Enterprise, que é mais importante consultoria global em TOGAF. Sua fundadora e CEO faz parte do time que escreveu o TOGAF, e a empresa foi a responsável pelo treinamento e certificação de mais da metade dos consultores certificados em TOGAF no mundo.

Clique aqui para maiores informações sobre a parceria e a Architecting the Enterprise, e aqui para mais informações e inscrição na palestra.

Vamos falar de crise?

De tudo o que já se falou sobre a atual crise, um aspecto me parece sobressair: o forte componente ético associado ao desabamento que estamos vivenciando.

Embora muita gente importante tenha se manifestado a este respeito, gostaria de recolher três opiniões de origens bastante distintas, mas que apontam na mesma direção.

Em primeiro lugar, temos o pensador brasileiro Eduardo Giannetti. Em seu excelente livro “Vícios Provados, Benefícios Públicos?” , ele já argumentava, em 1994, que a ética é essencial para o funcionamento do capitalismo.

Depois temos o papa Bento XVI, que vem repetidamente lembrando o quanto esta crise atual é, principalmente, uma crise de valores.

Por último, refiro-me a uma reportagem de capa recente da revista Exame, que se pergunta “O que deu errado com o Bônus?”.

Em comum, aponta-se para a ganância excessiva como uma das principais fontes do problema.

Alguns ideólogos jurássicos e oportunistas estão a regozijar-se com a crise como sendo “o fim do neoliberalismo” e até mesmo “o fim do capitalismo” (!)

É evidente que não se trata disso. O Socialismo que tais críticos defendem provou desastrosamente seus resultados. E mesmo o welfare state de tipo europeu há tempos encontra-se em um beco sem saída. Foi justamente o “neoliberalismo” que permitiu um dos mais longos e prósperos ciclos de crescimento econômico na história contemporânea, retirando milhões de pessoas da miséria em diversos países em desenvolvimento.

Portanto, temos o paradoxo de que a liberdade econômica e estímulo ao empreendedorismo de tipo norte-americano foram ao mesmo tempo os causadores tanto do longo período de pujança econômica quanto do atual desabamento dos mercados. Ou seja, a “ganância” levou ao longo período de forte crescimento, mas foi também a causa do desastre.

Quando – e onde – encontraremos o meio termo?

O discurso de governos e economistas tem ido na direção de “maior regulamentação”. Ora, regulamentação não tem faltado. A lei Sarbanes-Oxley (SOX) é draconiana em seus controles. Nunca houve –teoricamente, ao menos- tanto controle, tanta transparência, tanta boa governança, tanto acesso à informação das empresas quanto temos hoje. E nada disso adiantou… Será que ainda mais regulamentação resolverá o problema? Ou será que o buraco é mais embaixo?

Voltaremos ao assunto.

Comentários?

SOA sem Arquitetura é jogar dinheiro fora!

Como vocês sabem, fiz na última terça uma palestra na SUCESU com o título “BPM, SOA e Arquitetura Corporativa”. A apresentação foi um sucesso, tivemos mais de 60 participantes. Vou comentar alguns dos pontos discutidos aqui para quem não pode ir.

O argumento principal da palestra era que algumas iniciativas que estão muito na moda na área de TI hoje correm sérios riscos de dar com os burros n’água sem a Arquitetura Corporativa.

Em particular, investir em SOA sem Arquitetura Corporativa é algo com enorme probabilidade de não passar de dinheiro jogado pela janela.

Por quê?

Simples. Ao contrário do que alguns influentes advogados do SOA pregam, implantar esta tecnologia nem é barato nem se faz do dia para a noite. Assim, é evidente que alguma forma de priorização se faz necessária:

  • Quais são as funcionalidades dos sistemas atuais que devem ser transformadas e encapsuladas em serviços?
  • Quais novos serviços são realmente necessários?
  • Onde devo buscar estes novos serviços? Desenvolver em casa ou procurar no mercado?

Ora, devemos começar pelos serviços mais relevantes para a estratégia da empresa, dirá alguém, e com razão. A questão é: como é que eu sei quais são os serviços mais relevantes para a estratégia?

A resposta é que você não tem como saber sem uma Arquitetura Corporativa. É a Arquitetura Corporativa (também conhecida como Arquitetura Empresarial) que mapeia e documenta tudo o que há dentro da organização, estabelecendo o vínculo entre a Estratégia da organização, seus Processos de Negócio e os recursos necessários para viabilizar esses processos.

Sem Arquitetura, portanto, corremos o risco de investir nos “serviços” errados, o que nos levará em breve ao nosso velho carma: o Retrabalho.

Estou disponibilizando os slides da palestra em nossa área de Recursos. Estejam à vontade para comentar.